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Fazendo inovação com o MASP

Claudemir Oribe é Mestre em Administração, Consultor e Instrutor de MASP, Ferramentas da Qualidade e Gestão de T&D. E-mail claudemir@qualypro.com.br.

17/09/2012

Um dos temas da gestão mais discutidos nos dias de hoje tem sido a inovação. A inovação é considerada como uma saída para agregar valor aos produtos e serviços, possibilitando aumento de competitividade e receitas mesmo em condições de estagnação do mercado. Países pequenos e com escassos recursos naturais como Japão, Coréia e Suíça creditam seu sucesso à sua capacidade de criar constantemente produtos inovadores e que se mantém na preferência de consumidores. Se bem desenvolvida e consolidada, a inovação é, portanto, uma fonte de vantagem competitiva sustentável.

A inovação é definida como um processo que gera algo novo seja um produto, uma aplicação ou um sistema. É um método criativo de obter novas aplicações para o conhecimento existente ou ainda de combinar fragmentos de conhecimentos existentes para criação de uma nova habilidade ou de novas soluções. Há assim um sentido da singularidade, percebido pelo cliente como única à medida que o produto é diferente daqueles existentes.

Seria o MASP capaz de produzir resultados dessa natureza? A resposta é, definitivamente, sim. Katsuya Hosotani, um respeitável nome da Qualidade no Japão, afirma que problemas que merecem serem resolvidos são aqueles que não se conhece nem a causa e nem a contramedida. Isso leva a dedução de que a contramedida, ou uma solução nova e inexistente, precisa ser desenvolvida. Há, portanto, um processo criativo intrínseco ao se resolver problemas. Evidentemente, ninguém deseja reinventar a roda e quebrar a cabeça buscando uma solução que já existe. Assim, é razoável supor e até desejável que se procure a solução mais acessível possível e ao menor custo. No entanto, nem sempre as soluções estão disponíveis. Existem muitos problemas nas empresas, envolvendo equipamentos e processos, para as quais as soluções nunca foram desenvolvidas nem por fornecedores especializados. No entanto, o MASP não tem potencial para fazer qualquer tipo de inovação, mas sobretudo aquele do tipo incremental, que se caracteriza pela evolução criativa de um processo, produto ou serviço já existente.

Então, se uma equipe se depara com uma situação como essa, a primeira e óbvia alternativa é tentar buscar a solução existente. Após as inevitáveis e infrutíferas tentativas, a equipe precisa se conscientizar e decidir pelo desenvolvimento da solução inovadora. A inovação começa, portanto, com uma decisão da equipe ou gerencial para a dedicação de potencial criativo, de tecnologias e recursos para assumir os riscos decorrentes da iniciativa de inovar. Thomas Edison, provavelmente o maior inventor de todos os tempos, dizia que ele nunca falhou, mas apenas descobriu 10 mil coisas que não funcionam.

Uma equipe que está resolvendo um problema deve, na etapa de Análise do MASP, ter disposição para estudar o problema com profundidade inédita para descobrir os mecanismos que levam a sua ocorrência. Não se trata de ser razoavelmente profundo, mas profundo ao ponto de descobrir o que ninguém ainda descobriu. Isso significa muitas horas de análise e acúmulo de informações inéditas. Isso pode ser difícil, mas foi assim que quase tudo o que temos na vida cotidiana foi criado um dia. 

Depois disso, o próximo passo é encontrar a solução inovadora e, para isso, é necessário mais tempo, recursos e dedicação de trabalho árduo. A etapa do Plano de Ação do MASP é o momento para desenvolver alternativas para criar uma solução otimizada e que não crie efeitos secundários negativos. O processo para isso pode ser inspirado, nos estímulos criativos do brainstorming ou o modelo do espiral do conhecimento de Nonaka e Takeuchi. Na verdade, a forma em que a inovação acontece não importa tanto, podendo até ser totalmente intuitiva. O que importa é sua singularidade e seu potencial econômico. É fundamental que a composição da equipe privilegie pessoas com elevado conhecimento técnico e capacidade criativa.

Finalmente, como parte final do processo criativo, a equipe precisa proteger seu conhecimento por meio de segurança eletrônica de informação e posteriormente, quando a ideia estiver totalmente concebida, contra o plágio e a perda dos benefícios potenciais por meio de registros de patentes. Existem várias modalidades de patentes e há registros que descrevem grupos de melhoria, usando MASP, que desenvolveram soluções inéditas que foram alvo de reinvidicações de registros de patentes no Brasil.

A documentação necessária pode ser feita pela própria equipe, mas uma revisão por especialistas deve ser feita para que não sejam deixadas brechas que permitam que alguém copie a ideia básica e desenvolva uma solução não abrangida pela patente solicitada ou requerida. Enfim o MASP pode e deve ser utilizada como meio de provocar inovação. Isso é bom para as pessoas, para a empresa em que trabalham, para clientes e até mesmo para a sociedade.



Referências

CAMPOS, Vicente Falconi. TQC: Controle da Qualidade Total (no estilo japonês). 8. ed. Belo Horizonte: INDG, 2004. 256 p.

HOSOTANI, Katsuya. The QC problem solving approach: solving workspace problems the japanese way. Tokio: 3A Corporation, 1992.

KING, Bob, SCHLICKSUPP, Helmut. Criatividade: uma vantagem competitiva. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999.

KUME, Hitoshi. The QC Story. In: KUME, Hitoshi. Statistical methods for quality improvement. Tokyo: 3A Corporation, 1992. p. 191-206.

NONAKA, Ikujiro; TAKEUCHI, Hirotaka. Criação de Conhecimento na Empresa: como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. 17. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

ORIBE, Claudemir Yoschihiro. Quem Resolve Problemas Aprende? A contribuição do método de análise e solução de problemas para a aprendizagem organizacional. Belo Horizonte, 2008. Dissertação (Mestre em Administração). Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

ORIBE, Claudemir Y. Os estudos da Inovação no Brasil: uma visão a partir dos artigos publicados no ENANPAD e ENEO. Disponível em www.qualypro.com.br. Acessado em 15/09/2012.

TIDD, Joe; PAVITT, Keith; BESSANT, John. Gestão da Inovação. Porto Alegre: Bookman, 2008.

UNIÃO BRASILEIRA PARA A QUALIDADE – UBQ. Relatório dos Trabalhos. In. Convenção Mineira de Círculos de Controle da Qualidade. Anais. Belo Horizonte: UBQ, 2012.

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