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Quantos MASPs existem?

Claudemir Oribe é Mestre em Administração, Consultor e Instrutor de MASP, Ferramentas da Qualidade e Gestão de T&D. E-mail claudemir@qualypro.com.br.

14/02/2013


O MASP é o método de solução de problemas mais utilizado no Brasil. Encontram-se exemplos de aplicação em vários segmentos econômicos e em todas as regiões do país. Algumas poucas literaturas nacionais se dedicam a descrever o MASP, no entanto, trabalhos científicos são elaborados anualmente em quantidade razoável, sobretudo trabalhos de conclusão de cursos, ou TCCs. Encontram-se também dissertações de mestrado e teses de doutorado onde, comumente, o MASP é comparado com outras abordagens de solução de problemas. Finalmente, artigos publicados na mídia impressa ou digital, procuram descrever sua concepção metodológica e sequência de etapas, passo a passo. Enfim, o usuário ou estudioso encontrará referências para aprender o método, embora as fontes possam apresentar certo grau de divergência. Isso leva à seguinte indagação: existem mais de um método ou são todos variantes do mesmo MASP? Essa questão exige uma análise cuidadosa.

A primeira coisa que a pessoa que estuda o MASP irá observar é a diferença entre a quantidade de etapas. Um dos primeiros livros traduzidos para o português é o TQC- Total Quality Control de Kaoru Ishikawa, publicado em 1985. Ishikawa, uma das maiores autoridades no tema da Qualidade, descreve seu ciclo de controle com seis etapas: 1. Definir metas e objetivos, 2. Definir métodos, 3. Treinar, 4. Executar, 5. Verificar e 6. Efetivar medidas. Embora seja um desdobramento do PDCA, o leitor desatento cometeria um erro conceitual se tentasse utilizar esta sequência para resolver problemas. Ela foi elaborada para para garantir controle a priori, ou seja, para implantar um novo processo e não resolver problemas.

Já a maioria dos MASPs que o leitor irá encontrar contém 8 passos, incluindo o método de solução de problemas - MSP apresentado por Vicente Falconi Campos no livro TQC no estilo japonês, publicado em 1992. As etapas são: 1. Identificação do problema, 2. Observação, 3. Análise, 4. Plano de ação, 5. Ação, 6. Verificação, 7. Padronização e 8. Conclusão. Percebe-se, além da quantidade, a diferença nas etapas do modelo de Ishikawa pois, neste caso, elas possuem uma natureza mais reativa, ou ação a posteriori. A referência original este foi o livro de Kume - Statistical Methods for Quality Improvement, que descreve o método em apenas sete etapas: 1. Problema, 2. Observação, 3. Análise, 4. Ação, 5. Avaliação, 6. Padronização, 7. Conclusão. Também sete etapas tem o Katsuya Hosotani: 1. Selecionar tópico, 2. Entender a situação e definir metas, 3. Planejar atividades, 4. Analisar causas, 5. Considerar e implementar contramedidas, , 6. Checar resultados e 7. Padronizar e estabelecer controle.

A diferença entre o MASP de Kume e de Hosotani é que, enquanto o primeiro a analise é feita na etapa 3, no de Hosotani ela é realizada na etapa 4. Enquanto Hosotani é mais cuidadoso na descrição das etapas preliminares do método, Kume o é nas etapas finais. É importante enfatizar que não há diferenças significativas entre os métodos, mas apenas a forma de apresentação.

E quanto ao MASP de Campos, como as sete etapas do método de Kume se transformaram em oito ao serem adaptados para o português? A explicação é exatamente a mesma. Os discípulos do autor brasileiro acharam mais correto separar o planejamento da ação da ação propriamente dita, pois o planejamento pertenceria ao PLAN do PDCA, enquanto que a ação pertenceria ao DO do ciclo. Dessa forma criou-se mais uma etapa sem, no entanto, criar um método novo.

Posteriormente, em 1991 a União Japonesa de Cientistas e Engenheiros – JUSE, publicou um livro denominado TQC Solutions - the 14 step process, descrevendo o MASP com 14 passos. Se analisarmos atentamente cada um deles, veremos que todos eles estão contemplados, alguns como subetapas, no MASP de Campos. 

Assim, embora existam várias descrições do MASP, e de sua congênere o QC-Story, que se podem encontrar na literatura e no ambiente profissional, não se encontram diferenças significativas nos métodos, o que leva a afirmar que o MASP é um só método, descrito de maneiras ligeiramente diferentes.

Essa flexibilidade ajuda o ensino e a compreensão por um determinado público mas, além de não mudar o método, não altera sua natureza e promove o mesmo resultado, com a mesma elevada eficácia que caracteriza o melhor método de resolução de problemas complexos, que as empresas tem à sua disposição.


Referências

CAMPOS, Vicente Falconi. TQC: Controle da Qualidade Total (no estilo japonês). 1. ed. Belo Horizonte: FCO, 1992.

HOSOTANI, Katsuya. The QC problem solving approach: solving workspace problems the japanese way. Tokio: 3A Corporation, 1992.

ISHIKAWA, Kaoru. TQC – Total Quality Control: estratégia e administração da qualidade. Trad. Mário Nishimura. São Paulo: IMC, 1986.

KUME, Hitoshi. The QC Story. In: KUME, Hitoshi. Statistical methods for quality improvement. Tokyo: 3A Corporation, 1992. p. 191-206.

ORIBE, Claudemir Yoschihiro. Quem Resolve Problemas Aprende? A contribuição do método de análise e solução de problemas para a aprendizagem organizacional. Belo Horizonte, 2008. Dissertação (Mestre em Administração). Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

JUSE - JAPANESE UNION OF CIENTISTS AND ENGINEERS. TQC Solutions: the 14 step process. Volume 1: The Problem Solving Process. Cambridge, MA: Productivity Press Inc., 1991a.

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