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Os Estudos da Inovação no Brasil: uma visão a partir dos artigos publicados no ENANPAD e ENEO

Claudemir Oribe - Mestre em Administração e Sócio-Consultor da Qualypro - claudemir@qualypro.com.br

01/05/2012

1. INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo comparar o conteúdo, metodologias empregadas e os resultados de oito artigos publicados sobre o tema da inovação pelos seguintes autores: BASTOS et al., 2004; BASTOS (2) et al. 2004; BENEDETTI et al., 2005; BIGNETTI, 2001; CUNHA e SANTOS, 2004; PAROLIN e ALBUQUERQUE, 2004; TONELLI e ZAMBALD, 2005; ZILBER et al. 2005.

A comparação visa identificar os aspectos comuns nas pesquisas sobre a inovação publicadas nos principais eventos acadêmicos do Brasil. Trata-se de um estudo de natureza exploratória que visa a construção de uma conjunto de variáveis de pesquisa, cujo objetivo é propor um referencial sobre os estudos que se destinam a elucidar questões envolvendo o tema da inovação, seus construtos e variáveis considerados comuns pelos autores pesquisados na amostra deste artigo.

A pesquisa foi feita sobre oito artigos publicados nos Anais do Encontro da ANPAD – Associação dos Cursos de Pós Graduação em Administração dos últimos 5 anos e do ENEO – Encontro de Estudos Organizacionais do ano de 2004. Valendo-se de uma análise de conteúdo, os dados foram compilados segundo dados básicos sobre os autores, as referências, dados gerais e resultados. Foram identificadas dez categorias dentro das quais os artigos convergem: Redução de Custos, Estruturas, Pessoas, Relação com o ambiente, Diferenças entre empresas inovadoras e não inovadoras, Fatores determinantes para a inovação, Papel dos Gestores, Estratégia, Processo de inovação e Relações de trabalho. O estudo traz à luz uma amostra significativa sobre os estudos da inovação no Brasil permitindo identificar o estágio em que se encontram.

2. O REFERENCIAL TEÓRICO DA INOVAÇÃO

Os estudos sobre a inovação empresarial parecem estar aumentando nos últimos anos.  Os artigos publicados nos Anais e periódicos brasileiros estão visivelmente aumentando nos últimos anos. Paralelamente a isso, muitos estudos na área da estratégia empresarial têm abordado com freqüência progressiva o tema da inovação, tais como os de Drucker (1985), Porter (1989), Mintzberg (1998), Prahalad e Hamel (1990) apud ZILBER et al. (2005), dentre muitos outros. Para Tidd, Bessant e Pavitt (2005), Joseph Schumpeter é o “godfather” dos estudos da inovação ao criar o conceito de destruição criativa, onde uma constante procura por coisas novas destrói as regras antigas para estabelecer novas fontes de lucros. A inovação é ainda considerada um importante recurso para a sobrevivência das organizações (ENGEL; BLACKWELL; MINIARD, 1993; KOTLER, 1997; REA; KERZNER, 1997; ROBERTSON, 1999 apud ZILBER et al., 2005) e elemento chave para o sucesso de uma empresa em um mercado competitivo. A inovação é vista, portanto como forma de competir em ambientes altamente dinâmicos e com ininterruptas mudanças tecnológicas, para que as empresas aumentem sua capacidade de prosperar e sobreviver. A evolução tecnológica tem um papel poderoso no processo e as organizações necessitam prever sua trajetória para que sejam capazes de se antecipar a ela.

Para Galbraith e Lawler III (1995) apud Zilber et al., (2005) a inovação é definida como um processo que gera algo novo: um produto, uma aplicação ou um sistema. É um método criativo de obter novas aplicações para o conhecimento existente ou ainda de combinar fragmentos de conhecimentos existentes para criação de uma nova habilidade ou de novas soluções. Do ponto de vista da organização, Tushman e Nadler (1997) Zilber et al., (2005) definem a inovação como a criação de qualquer produto, serviço ou processo que seja novo para uma unidade de negócios, desde que eficaz, e exige a fusão das necessidades de mercado com a viabilidade tecnológica e a capacidade de fabricação. Nesse sentido, Shelth, Mittal e Newman (1999) apud ZILBER et al., (2005), destacam o sentido da singularidade, percebido pelo cliente como única à medida que o produto é diferente daqueles existentes.

A inovação pode ser de dois tipos: a) radical ou descontínua, que é a capacidade de uma empresa de criar novos produtos que incorporem substancialmente diferentes tecnologias dos produtos existentes e que requerem a introdução de qualificações, processos e sistemas novos em toda a organização; ou b) incremental que significa pequenas melhorias dos processos, produtos ou serviço da empresa e pouco altera o padrão de comportamento básico exigido pelos consumidores  (FREIRE, 2002 apud ZILBER et al., 2005).

O referencial teórico sobre a inovação envolve um conjunto bastante vasto acerca das variáveis que permeiam o processo e o ambiente criativo. Sobre a estrutura organizacional, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) defendem a organização adhocrata e sua capacidade única para inovar de maneira complexa. Morgan (1996), similarmente destaca a organização matricial, ou uma metáfora de uma organização orgânica, como estruturas capazes de inovar, evoluir e alcançar os desafios e solicitações de ambientes em mudanças. Para Grant (1998) o processo exige a necessidade de uma maior interação e colaboração entre especialistas de vários departamentos da organização em atividades do tipo força-tarefa, uma vez que a inovação é uma atividade de cooperação que emerge da integração de múltiplas disciplinas. Galbraith e Lawler III (1995) a empresa deve estimular recursos de conexão tais como: gerentes de integração, comitês permanentes; grupos de trabalho, estrutura horizontal, redes de contato interdepartamentais, contatos freqüentes com grupos externos com reduzido controle hierárquico. Outro consenso é o de que, sendo a inovação fundamentalmente um produto do conhecimento e da criatividade (GRANT, 1998 apud ZILBER et al., 2005), ela exige planos estratégicos flexíveis, controles financeiros e operacionais não-restritivos e sistemas de premiação baseados na autonomia, no reconhecimento e na participação igualitária em novos projetos. Cabe também aos gerentes criar um clima propício à inovação e monitorar as variáveis estruturais, desenvolvendo habilidades capazes de gerar competências distintivas que permitam que a organização utilize o seu potencial inovador para o aproveitamento das melhores oportunidades do mercado (PRAHALAD; HAMEL, 1990).

Assim, vários autores trabalharam para a formação do construto dos fatores chave da inovação empresarial. Zilber et al., 2005, cita West apud Smith (1991) que destaca quatro processos que podem melhorar os grupos de inovação: a) compartilhamento de uma visão por meio das idéias e valores do grupo; b) a participação em um ambiente que permite aos indivíduos livre expressão de suas idéias, reduzindo a resistência para a mudança; c) o comprometimento para excelência na performance de tarefas que cria um ambiente no qual os indivíduos avaliam e desafiam procedimentos organizacionais; d) suportes nos processos de mudanças, que podem ser a cooperação de pequenos grupos ou por meio da organização disponibilizando recursos.

Para Ruggles (2002) apud ZILBER et al., (2005), que destaca o ciclo de vida da inovação em quatro processos: a) geração de idéias que é o estágio primordial da criação de uma idéia que inclui desde a exploração inicial, o rigor de análises e idéias aleatórias; b) desenvolvimento, que é o ponto em que são empregados os recursos para transformar uma idéia em um produto, serviço ou processo, que inclui protótipos, experimentação e testes; c) adoção e difusão, que é a adoção é a absorção e aplicação de um conceito ou um produto por uma pessoa ou por um grupo, fazendo com que as inovações se diferenciem de meras invenções; d) fim de jogo, que acontece no momento em que não há mais valor a ser obtido de uma inovação como tal.

O estudo realizado pôde constatar a riqueza e a pluralidade disciplinar com que o tema da inovação tem sido tratado, ao identificar 359 autores que contribuíram para a elaboração de 230 referências bibliográficas citadas apenas nos oito artigos estudados. Quanto à problemática normalmente apresentada pelos autores, a questão comum trata da falta de alternativas teóricas e por novos modelos para tentar explicar como as ações estratégicas, as práticas de inovação, a competência dos gestores e outros construtos do tema da inovação contribuem para tornar as organizações mais inovadoras, competitivas e por meio disso prosperar num ambiente cada dia mais turbulento.

Pode-se observar a constante adoção de abordagem indutiva buscando relacionar o pulverizado referencial teórico às práticas de gestão adotadas por empresas inovadoras e mesmo não inovadoras no Brasil, para compreender como elas poderiam melhorar sua competitividade no cenário mundial. Neste intento, os pesquisadores brasileiros parecem buscar maximizar o relacionamento teórico e assim tentar encontrar aqueles que mais serviriam para a nossa realidade. O estágio das pesquisas parecem por isso estar num estágio pré-paradigmático devido à falta de convergência, à ampliação dos estudos e ao recorrente citação acerca da falta de estudos e construtos universalmente aceitos.

3. METODOLOGIA
Este artigo tem como objetivo comparar o conteúdo, metodologias empregadas e os resultados de oito artigos publicados sobre o tema da inovação pelos seguintes autores: BASTOS et al., 2004; BASTOS (2) et al. 2004; BENEDETTI et al., 2005; BIGNETTI, 2001; CUNHA e SANTOS, 2004; PAROLIN e ALBUQUERQUE, 2004; TONELLI e ZAMBALD, 2005; ZILBER et al. 2005.

A comparação visa identificar os aspectos comuns nas pesquisas sobre a inovação publicadas nos principais eventos acadêmicos do Brasil. Trata-se de um estudo de natureza exploratória que visa a construção de uma conjunto de variáveis de pesquisa, cujo objetivo é propor um referencial sobre os estudos que se destinam a elucidar questões envolvendo o tema da inovação, seus construtos e variáveis considerados comuns pelos autores pesquisados na amostra deste artigo.

Foram selecionados doze artigos publicados nos Anais do Encontro da ANPAD – Associação dos Cursos de Pós Graduação em Administração dos últimos 5 anos e do ENEO – Encontro de Estudos Organizacionais do ano de 2004. Após uma primeira avaliação, foi feita uma nova seleção desta vez com oito artigos em amostra não probabilística por afinidade. Os oito trabalhos foram lidos e, baseado num trabalho de análise de conteúdo, seus dados foram compilados numa tabela segundo os critérios de Origem, Título, Autores, Quantidade de Referências, Tema, Problema, Objetivos, Estratégia de pesquisa, Tipo, Coleta, Análise, Amostra, Variáveis e Falhas.

Os dados de origem, título e autores se referem às informações básicas dos trabalhos, permitindo sua fácil indicação e referenciação. A quantidade de referências serviu para balizar o tamanho da bibliografia utilizada para a confecção do estudo e consequentemente do artigo. Os dados de tema, problema, objetivos, estratégia de pesquisa, tipo, coleta, análise, amostra e variáveis foram retirados do conteúdo dos trabalhos não sendo feitos quaisquer julgamentos acerca dos de sua validade. No campo denominado Falhas, foram registrados os pontos considerados duvidosos acerca do método, amostra, variáveis ou resultados encontrados na pesquisa ou no artigo pesquisado.

4. ANÁLISE DOS TRABALHOS SOBRE INOVAÇÃO
Conforme apresentado no capítulo da Metodologia, o presente estudo foi baseado em oito artigos em que o tema da inovação tenha sido o tema do trabalho. A seguir é apresentado cada um dos artigos de forma sintética e particularizada.

4.1 A criatividade, a inovação e a competência dos gestores: suas relações com o comportamento organizacional
O artigo apresenta os resultados de um estudo comparativo sobre três pesquisas realizadas sobre a criatividade nas organizações e identifica componentes sobre gestão das pessoas que interferem no ambiente de estímulo à criatividade e inovação nas organizações. Os autores elaboraram uma pesquisa qualitativa de tipo exploratório relacionada às competências dos gestores para a obtenção desse ambiente, procurando identificar variáveis do comprometimento organizacional. O artigo distingue a criatividade da inovação e apresenta o construto sobre a gestão de pessoas e o comprometimento. Três novas variáveis foram destacadas: a) as competências dos gestores; b) o clima organizacional; e c) o processo criativo e o comprometimento com resultados. A análise comparativa dos três trabalhos foi feita utilizando estas três variáveis. Os pontos convergentes se localizam, sobretudo na competência dos gestores para a criação de um ambiente propício à inovação, eliminando barreiras, minimizando resistências, reduzindo o medo de errar e apoiando e motivando as pessoas para a criatividade.

4.2 As Práticas Gerenciais e a Inovação Empresarial: Estudo das Empresas Líderes em Inovação
O artigo é resultado de uma pesquisa exploratória e cujo objetivo é identificar quais são as práticas gerenciais adotadas por empresas líderes em inovação. A fundamentação teórica define a empresa inovadora, seus componentes e as práticas gerenciais e suas aplicações. As práticas gerenciais foram classificadas em seis categorias: a) estratégia; b) inovação e tecnologia; c) estrutura e processos; d) pessoas; e) alianças estratégicas; e f) meio ambiente. A pesquisa consistiu de uma análise de conteúdo das páginas institucionais da Internet de 12 empresas consideradas inovadoras para identificação das práticas gerenciais empregadas. As empresas adotam de 4 a 15 práticas. Cada prática é praticada por 1 a 12 empresas, num nível bastante baixo de coincidências.

4.3 O Processo de Inovação em Empresas Intensivas em Conhecimento
Este artigo propõe uma análise alternativa para o estudo do processo de inovação em empresas intensivas em conhecimento, inseridas em ambientes turbulentos e com tecnologias de curto ciclo de vida. O autor discorre sobre dois enfoques teóricos da inovação, uma tradicional baseada em departamentos de P&D e outra indeterminista onde a inovação acontece por meio de interação entre diversos atores, num ambiente turbulento e sem uma idéia clara do resultado a ser atingido.

Adotando uma metodologia interpretativa e construtivista, a pesquisa foi feita a partir das percepções de 22 tomadores de decisão de três empresas canadenses intensivas em conhecimento. Foram analisados os resultados das ações estratégicas e das práticas de inovação adotadas, para concluir que a inovação mudou de um processo interno para um processo estratégico em que os diversos parceiros e potenciais clientes são conectados para a produção de uma solução que não é a mais refinada, mas a mais adequada dentro do curtíssimo prazo determinado pelo mercado. O artigo descreve muito bem o ambiente e as condições para a inovação com participação de diferentes atores, porém não trata dos papéis dos gestores, as habilidades requeridas nem o processo de inovação em si. Se ele seria igual ou não neste contexto é uma questão que permanece em aberto.

4.4 Empreendedores e Inovação: Contribuições para a Estratégia do Empreendimento
Este artigo trata do empreendedorismo e a inovação no ramo de panificação da cidade de São Paulo. O artigo começa abordando o empreendedorismo e o empreendedor, a importância da estratégia como fonte de vantagem competitiva, a inovação no contexto de empreendedorismo e descritos os tipos de inovação (incremental e radical) e as condições para que uma idéia seja considerada uma inovação. O setor da panificação é contextualizado, apresentando as transformações recentes e os modelos de padarias encontradas (boutique, de serviço e de conveniência). A pesquisa foi qualitativa do tipo exploratória tendo sido entrevistados seis proprietários de padarias que converteram seu negócio de um modelo tradicional para o modelo de conveniência. A análise de conteúdo permitiu a classificação das respostas em três categorias: a) o empreendedor; b) estratégia; e c) inovação e vantagem competitiva.

As conclusões apontam que o empreendedor toma as decisões de forma centralizada, é comprometido com se negócio e assume os riscos decorrentes de suas escolhas. O modelo da estratégia se aproxima do pensamento estratégico, sem planejamento formal. A inovação é incremental, tendo como alvos os custos, produtos e ingredientes.

4.5 Da Pesquisa à Inovação Tecnológica: O Estudo da Trajetória de uma Pesquisa até a Efetivação de uma Inovação
Este artigo apresenta o resultado da investigação do surgimento de um produto de nutrição animal denominado “amiréia”, desde a pesquisa acadêmica na Universidade Federal de Lavras – MG até a sua colocação no mercado. Os autores delimitam as etapas do processo de inovação e ilustram as oportunidades decorrentes do estreitamento do relacionamento entre a Universidade-Empresa, a Pesquisa básica-Pesquisa tecnológica e o Pesquisador-Empresário. Foi feita uma entrevista semi-estruturada com o pesquisador que desenvolveu o produto e uma pesquisa bibliográfica para chegar a um levantamento completo dos principais eventos significativos ocorridos nos últimos 30 anos acerca do produto. Apesar de ter sido feita sobre apenas um único caso, os autores concluíram que: a) a pesquisa básica é independente e mais livre das pressões do mercado; b) a parceria Universidade-Empresa facilita a inovação tecnológica; c) a percepção conjunta de pesquisadores e empresas é fundamental para o sucesso da pesquisa; d) as inovações devem ser transferidas para o mercado sem ficar restrita ao meio acadêmico; e) os pesquisadores não devem ser contaminados por preconceitos do meio acadêmico contra a iniciativa privada; f) deve haver preservação do direito autoral após a publicação do trabalho, para atender exigências acadêmicas enquanto preserva o fluxo de investimentos em pesquisa.

4.6 A Inovação e Seus Fatores Organizacionais Determinantes
O artigo apresenta um estudo que teve por objetivo identificar os fatores organizacionais determinantes para que uma empresa seja inovadora, no segmento eletroeletrônico de equipamentos médicos. A revisão da literatura inclui a importância da inovação, a diferença entre a inovação e a simples melhoria, a tipologia, estrutura, processo, ambiente, organização, papéis, competências e condições para a inovação. Os autores chegaram a um construto de 6 fatores organizacionais fundamentais, devidamente relacionados com os autores que estudaram cada um deles. Foi feita uma pesquisa de natureza quantitativa, aplicando um survey sobre dirigentes de 46 fabricantes de equipamentos eletromédicos, em amostra não probabilística por conveniência. Os dados receberam tratamento estatístico por meio da análise fatorial, sendo identificados seis fatores subjacentes ao processo de avaliação dos entrevistados: Liberdade e Comprometimento, Reconhecimento e Interação, Parcerias, Divisão do Trabalho, Estrutura Organizacional e Descentralização. Os autores justificam os resultados voltando ao referencial teórico, para concluir que, apesar do pequeno tamanho da amostra, houve um relativo grau de confiabilidade na pesquisa. É certamente a melhor fundamentação de todos os textos lidos para composição deste trabalho.

4.7 Teoria Implícita de Organização em Empresas com Distintos Padrões de Inovação nos seus Processos de Gestão
O artigo busca responder a questão do que é uma organização bem-sucedida segundo a percepção de atores organizacionais internos sob o ponto de vista do construto “teoria implícita de organização”. Foram identificados quatro padrões ou clusters de empresas: muito inovadoras, pouco inovadoras, inovadoras em práticas de gestão de pessoas e inovadoras em práticas de racionalização dos processos de trabalho, e pesquisadas sete empresas de Salvador, representativas dos quatro clusters, para determinar a adoção de 12 práticas inovadoras de gestão da produção. São definidos três eixos (continuum) que fundamentam a teoria implícita: a pró-atividade-reatividade; o mecânico-orgânico e o agency-community. Foram entrevistados 23 participantes para determinar a intensidade do uso das práticas de gestão e sua relação com cada eixo da teoria implícita. As conclusões parecem apontar que empresas mais inovadoras são mais proativas, adotam estruturas híbridas de mecânico-orgânico e combinam os modelos com características agency e community. A conclusão é que o cluster ao qual pertencem as empresas não parece ser significativo para diferenciá-las, devido a um elevado nível de compartilhamento das crenças e valores comuns e adequados para as organizações bem-sucedidas.

4.8 A adoção de novas práticas de gestão: explorando o esquema cognitivo dos atores em empresas com diferentes padrões de inovação
Este artigo, feito a partir de uma pesquisa sobre 220 empresas industriais brasileiras, tem por objetivo ampliar a compreensão dos motivos que levam as organizações a implementarem diferentes práticas de gestão. O estudo foi feito sobre quatro empresas de dois clusters opostos: muito inovadoras e pouco inovadoras. Na fundamentação teórica são definidas as bases da teoria implícita e representadas as principais abordagens da mudança organizacional na perspectiva da cognição. A mudança organizacional é então associada com a perspectiva da cognição ressaltando os pontos onde se concentra o foco de interesse na pesquisa.

A pesquisa é um estudo multicasos de cunho intensivo, qualitativo e exploratório. Foram entrevistados 12 atores organizacionais explorando os significados associados à mudança organizacional, as explicações subjacentes à adoção das práticas de gestão e a percepção de seus impactos. Foram construídos mapas cognitivos relacionados aos diferentes padrões de inovação organizacional.

4.9 Análise Comparativa
O referencial teórico utilizado
O referencial teórico pesquisado para a elaboração dos artigos contém de 15 a 58 referências entre livros, periódicos, Artigos/Anais, sites, dissertações, papers, teses, guias e relatórios de pesquisa. Cerca de 90% das referências são feitas nas três primeiras fontes. Os livros respondem por 60% do total de citações, enquanto que os periódicos e artigos publicados em Anais respondem por 21% e 9% respectivamente. As áreas de pesquisa para construção e cruzamento do referencial teórico se dividem em genéricas e específicas acerca de um campo de estudo. As principais áreas são a Inovação e Criatividade (21%) e Estratégia (13%). Outras áreas onde os autores buscam as origens epistemológicas para a inovação vão de Sites na Internet, Teoria das Organizações, Comportamento organizacional, Empreendedorismo, Administração, Marketing, Mudança organizacional, Sociologia, Competitividade, Gestão de Pessoas, Gestão da Tecnologia, entre outras, mostrando que os cruzamentos possíveis são bastante amplos. Quanto aos autores citados, eles somam 359 onde participaram da elaboração de 230 referências. Alguns autores citam referências de trabalhos anteriores feitos por si próprios. Quanto aos autores de temas genéricos da administração, economia e outras áreas, eles totalizam 205 sendo que os mais citados são Michael Porter, Peter Drucker e Gary Hamel com apenas seis, cinco e quarto citações respectivamente. Tamanha pulverização e a falta de convergência no referencial teórico lembram o que Kuhn (1994) definiu de período pré-paradigmático, em que uma constelação de autores candidatos a novos paradigmas disputam um restrito espaço no mundo acadêmico da ciência ao qual está relacionado.

Aspectos convergentes
Por meio do estudo empreendido sobre os artigos, pode-se ter uma clara perspectiva sobre as pesquisas em envolvem o tema da inovação, publicados no Brasil. Uma variável estudada com muita intensidade pelos autores diz respeito às competências, práticas e estratégias dos gestores e tomadores de decisão. Dos oito artigos estudados, seis concentravam a atenção sobre os gestores e suas características como alvo da pesquisa que originou o artigo. De fato a articulação, a visão, liderança e vontade de inovar dos gestores são tidas como uma das principais fatores para a inovação (TIDD, BESSANT E PAVITT, 1997; DRUCKER, 1989 apud CUNHA e SANTOS, 2004; BASTOS et al. 2004; TEECE, PISANO, SHUEN, 1997 apud ALVES et al., 2004; QUINN, 1985; PRAHALAD e HAMEL, 1990; GALBRAITH e KAZANJIAN, 1986; GALBRAITH, 1997 apud ZILBER, 2005; DEGEN, 1989; SCHUMPETER, 1950 apud BENEDETTI et al., 2005). Não por acaso, também em seis dos oito trabalhos estudados, os entrevistados foram os gestores das organizações pesquisadas (BASTOS et al., 2004; BASTOS (2) et al. 2004; BENEDETTI et al., 2005; BIGNETTI, 2001; TONELLI e ZAMBALD, 2005; ZILBER et al. 2005). As amostras variaram entre um e quatro entrevistados, sendo eles o empreendedor, pesquisador, CEO – Chief Executive Officer, Diretores ou Gerentes.

Foi observada também a preocupação de alguns autores de tentar determinar os fatores críticos para a organização ser considerada inovadora. Dos oito artigos, seis se dedicavam a encontrar, seja por meio de pesquisa exploratória nas amostras pesquisadas ou por meio do referencial teórico, quais seriam os fatores determinantes para a obtenção da inovação. As variáveis encontradas, além da liderança, foram basicamente o clima, a estrutura, a estratégia, o envolvimento e o comprometimento, a descentralização e o controle e a relação entre as pessoas e a organização. Na variável estrutura, é interessante observar que o artigo elaborado no ano 2001 (BIGNETTI, 2001) se preocupa em comparar a inovação por meio de um departamento de P&D estruturado e práticas de inovação disseminadas de forma mais distribuída em toda a organização. Essa abordagem já havia sido percebida em outro trabalho publicado também no ano 2001 e que não fez parte da amostra de artigos selecionados. Isso parece indicar que a inovação saiu da esfera do P&D para outras áreas, uma vez que os artigos mais recentes não mais fazem esse tipo de análise, indicando a inovação como um componente orgânico e sistêmico.

Aspectos divergentes
Os aspectos divergentes entre os artigos se referem ao campo de pesquisa em que foram alvos os estudos que antecederam a publicação e as variáveis pesquisadas. No campo de pesquisa, a análise dos artigos indicou pouca convergência. Os autores trabalharam empresas inovadoras, não inovadoras, dissertações, organizações de um determinado setor e mesmo um único produto desenvolvido a partir do relacionamento empresa-universidade. Essa diversidade de pesquisas em profundidade e detalhadas contribui o desenvolvimento da ciência (Kuhn, 1994, p. 45), no caso para a formação do paradigma da inovação no ambiente organizacional. Quanto às variáveis pesquisadas, cada autor buscou definir seu próprio construto, seja a partir do referencial teórico ou a partir de uma pesquisa exploratória preliminar. Os construtos, quando empregados na pesquisa, variam de três (PAROLIN e ALBUQUERQUE, 2004) a dez (CUNHA e SANTOS, 2004). Em dois artigos os construtos não são utilizados como prescrição metodológica: Bignetti (2001) que utiliza uma abordagem interpretativa-construtivista e Tonelli e Zambald (2005) ao fazer um estudo de caso sobre a trajetória do desenvolvimento de um produto de alimentação animal.

Análise das metodologias empregadas
De maneira geral, os estudos sobre a inovação têm sido feitos adotando-se uma estratégia qualitativa do tipo exploratória ou descritiva. Os autores parecem estar num estágio inicial procurando compreender como a inovação permeia a operação, o ciclo decisório, as estratégias, estruturas e outros aspectos relevantes da vida organizacional procurando determinar os fatores chave condicionantes para as organizações que desejam se qualificar como inovadoras. Seis dos oito artigos descrevem estratégias de pesquisa qualitativas e em apenas duas são desenvolvidos estudos quantitativos. Os métodos de coleta empregados são predominantemente entrevistas semi-estruturadas com perguntas abertas e fechadas (cinco em oito artigos), mas a pesquisa documental foi empregada em três das pesquisas. Quando a pesquisa é de estratégia quantitativa, os pesquisadores fazem uso de survey semi-estruturado com um conjunto de respostas usando escala de Likert. As amostras sempre são não probabilísticas, baseadas frequentemente sobre organizações próximas ou por aquelas que se dispuseram a participar da pesquisa (amostra por conveniência).

A análise de conteúdo é o método mais empregado para a análise dos dados coletados (quatro dos oito artigos). A análise comparativa, análise fatorial e análise descritiva simples são empregadas pontualmente e de forma adequada e consistente com o processo de coleta de dados. Em dois artigos foram descritas análises longitudinais em que são relatados casos do desenvolvimento de produtos ou da organização durante um período de até 30 anos.

Resultados alcançados
A tabela 1 apresenta uma compilação feita a partir dos resultados relatados pelos oito artigos estudados. Os relatos foram agrupados em 11 grupos e reduzidos para 10 após a comparação e síntese.
 

Tabela 1 - Compilação dos resultados relatados pelos artigos estudados

A tabela acima evidencia um conjunto razoavelmente convergente do construto sobre as organizações e suas variáveis relevantes para que seja considerada inovadora.
Pontos falhos ou duvidosos
Durante o estudo dos oito artigos a que se refere este trabalho foram identificados e selecionados alguns pontos considerados falhos ou no mínimo duvidosos, os quais são apresentados na tabela 2 a seguir.


Tabela 2 - Pontos falhos ou duvidosos identificados nos artigos

É importante ressaltar que os pontos falhos ou duvidosos identificados na Tabela 2 não têm o propósito de criticar os artigos ou mesmo as pesquisas que os fundamentaram. Trata-se apenas de indicar aspectos que poderiam ter sido mais bem trabalhados para o entendimento do tema e eventualmente até reafirmar conclusões explícitas dos próprios autores em suas considerações finais.

5. CONCLUSÕES
O presente estudo teve por objetivo analisar uma amostra de oito artigos acadêmicos sobre o tema da inovação publicados nos Anais do Encontro da ANPAD – Associação dos Cursos de Pós Graduação em Administração dos últimos 5 anos e do ENEO – Encontro de Estudos Organizacionais do ano de 2004. A partir das informações coletadas foi elaborada uma análise de conteúdo e a construção de categorias de convergência das pesquisas de fundamentação. Diante da análise de todas as informações coletadas podemos elencar as seguintes conclusões: a) os estudos sobre a inovação vem aumentando progressivamente nos últimos 5 anos; b) o referencial teórico sobre a inovação é bastante pulverizado, com poucos autores citados com freqüência paradigmática nos artigos; c) há uma razoável convergência acerca dos fatores chave para qualificar uma organização ou um processo de inovação; d) os fatores organizacionais e estratégicos relevantes para a inovação se alinham com o que Morgan (1996) define como organização orgânica o que parece refletir o modelo de organização considerado ideal na atualidade; e) o processo de inovação baseado em investimento em P&D está cedendo espaço a processos mais sistêmicos em que há participação de diversos atores internos e externos, incluindo concorrentes; f) não há convergência acerca dos processos de inovação, que devem ser projetados segundo o contexto, o prazo e a complexidade do projeto a ser empreendido; g) os estudos sobre a inovação tem predominância no cunho qualitativo, exploratório com coleta de dados por meio de entrevistas dos gestores, excluindo portanto, ao menos na amostra pesquisada, a análise de dados financeiros para comprovar a eficácia da inovação; h) nem sempre as pesquisas contribuem para compreender melhor todos os aspectos que envolvem o tema e para diferenciar as organizações inovadoras das não inovadoras; i) alguns artigos apresentam métodos, resultados ou conclusões duvidosos, merecendo ma atenção maior por parte dos autores e comissões de avaliação.

Os artigos analisados apresentam uma característica comum ao concentrar a coleta de dados nos gestores das organizações. Tal viés acaba por inibir a busca de informações comprobatórias e que poderiam ilustrar com mais clareza a eficácia das ações de inovação. Assim, estudos futuros poderiam relacionar ações estratégicas, clima organizacional, competência dos gestores e outras variáveis com resultados financeiros e mercadológicos e outros indicadores de sustentabilidade empresarial.

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