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O que Fundamenta o MASP

Claudemir Oribe é Mestre em Administração, Consultor e Instrutor de MASP, Ferramentas da Qualidade e Gestão de T&D. E-mail claudemir@qualypro.com.br.

29/04/2012



Se você estudar o MASP mais a fundo é provável que encontre várias influências neste, que é o método de resolução de problemas mais popular do Brasil. De fato, o MASP parece ser uma construção com tijolos vindos de diversas origens disciplinares. Essa formação múltipla, diversificada e notável atribui consistência e legitimidade ao método, além de oferecer uma infinidade de perspectivas de estudo. Para nós, mais adeptos à prática, conhecer esses fragmentos conceituais pode parecer pouco relevante. No entanto, acredito que seja importante para aperfeiçoar a metodologia existente e também não perder a essência fundamental, o que seria desastroso para a gestão e para os resultados que todos buscam.

Talvez a origem de tudo sejam os campos da neurociência, as ciência do pensamento, como a psicologia cognitiva onde as diversas formas de pensar são utilizadas para a resolução de problemas de toda ordem. Os estudiosos do passado estruturaram modelos para chegar melhor ou mais rápido aos resultados desejados usando a compreensão da intuição, da síntese, da imaginação, seja pelo indivíduo ou nos grupos, como é o caso da sociologia. Evitar heurísticas e vieses de julgamento é um dos objetivo sdo método. Afinal, o que é o MASP, senão uma estruturação do pensamento para o alcance de um resultado permanente? As fragilidades e os caminhos tortuosos da mente humana são ao mesmo tempo o motivo e o objetivo do método.

Outro cruzamento que se pode fazer do MASP são algumas das teorias da administração, particularmente a administração científica, a burocracia, a teoria estruturalista etc. As ferramentas de gestão são bastante amplas e técnicas de planejamento, estruturas organizacionais, definição de objetivos, estratégia, aprendizagem organizacional, definições de responsabilidade e autoridades, liderança, dentre outras, são utilizadas durante os projetos de melhoria visando a organização do trabalho e o sucesso da iniciativa. Sem essas ferramentas administrativas o MASP não teria a funcionalidade e a praticidade necessária para que intenções se transformem em realidade.

Aliás, dos segmentos da gestão, aquela que mais fundamenta o MASP é, evidentemente, a gestão da qualidade, cujos estudiosos trabalharam arduamente na criação de conceitos, métodos e ferramentas cujo ordenamento adequado serve para o planejamento, controle e a melhoria da qualidade. Deming criou a filosofia de trabalho, Shewhart criou o PDCA e o CEP, Juran criou a análise de Pareto, Osborn criou o brainstorming, Feigenbaum foi o criador de várias ferramentas e, lembrando os japoneses, como Kume e Hosotani que se dedicaram a descrever o QC-Story e, finalmente, Ishikawa que criou o diagrama que leva seu nome. Essa é apenas uma amostra dentre diversos outras contribuições feitas nos últimos 90 anos que permitiram, cada qual, acrescentar um bloco na construção do melhor método de solução de problemas.

Entretanto, o MASP não se fundamenta apenas na gestão da qualidade. Durante a resolução de problemas há espaço e oportunidade de aplicação de diversas práticas gerenciais.

O projeto empreendido usa estratégias da Gestão de Projetos para seu gerenciamento. Na etapa de Plano de Ação vemos vestígios de Change Management e negociação. Na busca de soluções as equipes podem fazer benchmark. Na apresentação dos projetos, aprendem e lançam mão de técnicas de apresentação. Além disso, a aplicação do MASP é uma forma de desenvolver aprendizagem e, segunda alguns autores, a aprendizagem em ação é muito mais efetiva do que aquela que acontece em embiente pedagógico. Aprendizagem aliás, é algo que se vê do início ao fim no MASP. Isso por si só, já justifica sem emprego extensivo, sobretudo nesse momento, quando se observa um nível relativamente baixo de qualificação da mão de obra.

A prática organizacional é o caminho para a obtenção de resultados, mas se alguém deseja usar o MASP como um objeto de estudo, encontrará fundamentos na metodologia científica, particularmente na epistemologia. Métodos de pesquisa de natureza explicativa, sobretudo quantitativa são os alicerces da estruturação metodológica dos cerca de 30 passos distribuídos nas 8 etapas. A metodologia científica oferece princípios, como a objetividade, a sistematização, a falseabilidade, e métodos e técnicas de pesquisa como a observação, a entrevista, a análise de documentos, dentre outras.

Agora, para quem deseja estudar o MASP ainda mais, pode procurar a arte magna, a mãe de todas as ciências: a filosofia. A filosofia é o arcabouço seminal de todo o conhecimento humano. O período que foi conhecido como recolução científica é um prato cheio para ler e descobrir como pensadores há quase 400 anos, como Galileu, Descartes, Bacon fincaram as bases do pensamento racionalista, empírico, positivismo e, mais recentemente o pragmatismo, cuja estrutura e lógica possibilitou o desenvolvimento de uma nova forma de ver o mundo, descobrir conhecimentos úteis e válidos para o bem estar do homem.

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