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Como resolver problemas de forma mais prática: o MASP experimental

Claudemir Oribe é Mestre em Administração, Consultor e Instrutor de MASP, Ferramentas da Qualidade e Gestão de T&D. E-mail claudemir@qualypro.com.br.

02/10/2013


A resolução de problemas é um assunto recorrente na agenda técnica, administrativa e, por que não dizer, na própria vida cotidiana. Hitoshi Kume afirma que somos cercados de “inumeráveis problemas, grandes e pequenos” e que precisam ser remediados da melhor forma possível.

No entanto, é fácil perceber que existem diversas formas de resolver problemas. Devido a isso, o caminho percorrido, desde a identificação do problema até a solução, pode variar bastante. Problemas são como parafusos: cada tipo exige de uma ferramenta diferente. Por isso, tão relevante quanto discutir a solução, é discutir a forma de chegar a ela, pois o caminho escolhido pode influenciar o comportamento das pessoas e alterar o resultado obtido.

Se de um lado as abordagens intuitivas são arriscadas e as analíticas são demoradas, sobra espaço para novos métodos e que possam minimizar as condições negativas desses extremos. Francis Bacon desenvolveu a indução por eliminação da hipótese falsa, o desenvolvimento de um novo conhecimento só possível diante da união entre duas faculdades, a experimental e a racional. Bacon defende, portanto, a submissão das ideias à demonstração, por meio de técnicas experimentais. Também o método da indução experimental de Galileu Galilei e o método hipotético-dedutivo de Karl Popper podem servir de inspiração para o desenho de uma abordagem resolutiva que cumpre esse propósito, já que eles propuseram dar mais atenção às observações. 

Nesse aspecto, os órgãos dos sentidos, visão, audição, tato, olfato e paladar são as entradas para as quais podemos observar a natureza e os fenômenos e, assim, extrair leis à luz de experiências sensatas e demonstrações necessárias. Tais fundamentos inspiram a aplicação de uma abordagem experimental na resolução de problemas nos ambientes organizacionais. A Análise de problemas por meio de uma abordagem experimental não procuraria de imediato, medir quantitativamente as relações causais, mas apenas descobrir se elas existem, podendo deixar a medição para o final da análise, na medida em que há tempo para isso. Nessa linha, a ferramenta “5 Porquês” da análise de causa raiz, não seria utilizada no princípio da análise, mas após a experimentação, somente para as causas comprovadamente existentes. 

Nessa abordagem, a sequência de passos na etapa de Análise muda, para incluir o desdobramento dos passos necessários a identificar hipóteses, tecer conjecturas plausíveis sobre elas, planejar executar e verificar experimentos capazes de testar, comprovar ou refutar as conjecturas e, consequentemente, as hipóteses.

As hipóteses são identificadas pelo usuário, ou membros da equipe, numa ordem previamente estabelecida e relacionada com a situação onde o problema ocorre. As conjecturas são deduções lógicas que, partindo das causas hipotéticas, teorizam consequências que se justificam pela crença de que, de fato, contribuem para o aparecimento do problema. Experimentos ou verificações são identificados para confirmar, ou refutar, as conjecturas e as causas às quais estiverem relacionadas.

Um Plano de Experimentos, consolidando as causas primárias e secundárias identificadas pela equipe, priorizaria e identificaria os experimentos para confirmação das conjecturas e hipóteses. A análise experimental, portanto, não partiria de uma tentativa prematura de explicação como acontece nos métodos tradicionais de solução de problemas. Um MASP experimental posicionaria a explicação do mecanismo que provoca o problema, para o final da análise, inserindo o experimento como procedimento obrigatório, substituindo subjetividade por objetividade e intuição por observação. 

A etapa de Análise é a etapa chave de todo o processo e sua eficácia reside no fato de que, o observador se rende ao resultado do experimento, mesmo eventualmente não podendo explicá-lo totalmente. Por isso, um MASP experimental poderia ser utilizado também para resolver problemas potenciais, como estratégia de ação preventiva, e problemas de causas especiais, uma vez que a conjectura é uma probabilidade, então ela pode ser testada para problemas que ainda não aconteceram ou que não estão em evidência. 

Inserindo a rotina de Análise Experimental e simplificando algumas etapas do MASP tradicional, teríamos um método bastante simples e que pode resolver problemas de média, e até elevada complexidade. Por isso, ele tende a ser mais rápido e mais fácil do que um processo analítico mais estruturado.

Como vantagem adicional, um método desenhado assim, poderia se ajustar melhor ao perfil dos novos entrantes do mercado de trabalho pois, ao que parece, eles são mais adaptáveis aos estímulos sensoriais do que ao desafio de se debruçar sobre um problema para analisa-lo profundamente.



Referências
KUME, Hitoshi. The QC Story. In: KUME, Hitoshi. Statistical Methods for Quality Improvement. Tokyo: 3A Corporation, 1992.

ORIBE, Claudemir Yoschihiro. Abordagem Experimental para a Solução de Problemas. Disponível em http://www.qualypro.com.br/artigos. Acessado em 02/10/2013.

ORIBE, Claudemir Yoschihiro. Quem Resolve Problemas Aprende? A contribuição do método de análise e solução de problemas para a aprendizagem organizacional. Belo Horizonte, 2008. Dissertação (Mestre em Administração). Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do humanismo a Descartes. 2. ed. v. 3. São Paulo: Paulus, 2005. p. 217-219.

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