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Como ensinar pessoas comuns a usar o MASP – parte 2

Claudemir Oribe é Mestre em Administração, Consultor e Instrutor de MASP, Ferramentas da Qualidade e Gestão de T&D. E-mail claudemir@qualypro.com.br.

05/08/2013


Qualquer um pode resolver problemas. Essa constatação já foi demonstrada até mesmo com experiências científicas em seres não humanos. No entanto, na medida em que componentes do problema e da solução se desarranjam no tempo e no espaço, e se escondem sob todos os elementos materiais e imateriais da organização, podemos dizer que temos diante de nós problemas denominados de complexos. 

Os problemas complexos não são obras de assombração, de entes do além ou do campo incompreensível da metafísica. São problemas cujas causas estão ocultas, esperando alguém com mais disposição e competência, para serem desvendadas, explicadas e solucionadas. Um problema complexo exige, portanto, um repertório mais aprimorado de conhecimentos, habilidades e atitudes que podem muito bem serem aprendidas por quem quer que seja. Se qualquer um pode resolver problemas complexos desde que tenha as competências, é preciso então esclarecer como essas competências podem ser obtidas.

Aplicar o MASP não se resume em seguir uma sequencia de etapas ou, muito menos, preencher um formulário de ação corretiva. As competências podem ser obtidas em salas de aula e no ambiente de aplicação.

Em salas de aula é preciso em primeiro lugar esclarecer que existem várias formas de resolver problemas como por exemplo, a tentativa-e-erro, a intuitiva, a experimental e a científica. É preciso mostrar as vantagens e desvantagens de cada abordagem e mostrar por que usar a abordagem científica é a melhor frente as demais. Isso se faz com exposição e exemplificação, onde os participantes se lembrarão dos insucessos dos métodos menos estruturados. Em seguida deve-se procurar desenvolver algumas habilidades básicas. Ordenação e raciocínio lógico por meio de exercícios práticos para colocar coisas em ordem, ou jogos como sudoku, podem ajudar nesse papel.

Mais adiante é preciso, evidentemente, ensinar o método em si, relacionando suas etapas com o ciclo PDCA e mostrando como o método, embora se compondo de um certo número de etapas e passos, tem uma consistência lógica tão bem feita que pode ser montada sem consulta, após uma explicação, na forma de um quebra-cabeças. Esse exercício simples tem uma dupla finalidade: fazer as pessoas pensarem sobre a sequencia metodológica do MASP e remover a ideia preconcebida de que o MASP é ele, por si só, complexo.

Ainda em sala de aula, é desejável passar alguns conceitos como a da racionalidade, a objetividade e a sistematização. Esses conceitos fazem parte do pano de fundo e da fundamentação que sustenta o MASP como método analítico e científico. Sem eles arrisca-se a ser abduzido pela tentação da irracionalidade, da subjetividade e do encontro da sorte grande, que acertam vez ou outra, mas que não podem ser ensinados, pela impossibilidade de reprodução.

Finalmente, é importante ensinar os participantes a utilizar um conjunto mínimo de ferramentas da qualidade, afinal, método e ferramenta são aliados inseparáveis na resolução de problemas. Este conjunto pode variar entre sete e vinte, dependendo da carga horária do curso, que deve ser algo entre 16 e 40 horas. As ferramentas devem ser praticadas em sala considerando, evidentemente, o conhecimento prévio dos participantes. É fundamental que o participante aprenda a função de cada ferramenta para a execução de cada etapa ou passo do MASP. Estudos de caso e um exercício de aplicação do método e das ferramentas, com problemas simulados ou reais, podem ajudar os participantes a compreender e vencer a barreira natural entre o ambiente de aprendizagem e o ambiente de aplicação. Tudo pode ser feito com materiais simples, como papel em branco, papel quadriculado, canetas coloridas, réguas e dados gerados na hora ou fornecidos pelo instrutor. Se for possível, o uso de programas de computador torna o processo mais interessante para aqueles que dominam esses recursos.

Uma vez aprendido o método e as ferramentas em sala de aula, é preciso complementar o aprendizado em campo pois, infelizmente, as competências não podem ser desenvolvidas apenas no ambiente didático. A própria experiência de usar o método fornecerá os conhecimentos tácitos que preenchem pequenas lacunas deixadas pelo aprendizado em sala de aula. É importante, então, propiciar contatos com pessoas de elevada experiência de aplicação, bem como conhecimento absolutamente consistente do método.

Abandonar a própria sorte, os empregados que acabaram de aprender o método, é desperdiçar tempo e dinheiro, pois qualquer um pode resolver problemas complexos usando o MASP mas, para isso, é recomendável que, além de aprender em sala, desenvolva pelo menos três projetos. No primeiro eles terão dificuldades e os trabalhos talvez não fique tão bons. No segundo, corrigirão os erros que cometeram na primeira vez. Na terceira aplicação, se bem orientados, os empregados serão “feras” em MASP. Essa competência jamais será perdida e as experiências positivas serão levadas para o resto de suas vidas.


Referências

BARON, Joan Boykoff; STERNBERG, Robert J. Teaching Thinking Skills: theory and practice. New York: W.H. Freeman and Company, 1986.

CAMPOS, Vicente Falconi. TQC: Controle da Qualidade Total (no estilo japonês). 8. ed. Belo Horizonte: INDG, 2004. 256 p.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de A. Metodologia científica. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2004.

NICKOLS, Fred. Choosing the right problem solving approach. Distance Consulting, 2004a. Disponível em http://home.att.net/~nickols/articles.htm. Acessado em 12 de maio de 2007.

ORIBE, Claudemir Yoschihiro. Quem Resolve Problemas Aprende? A contribuição do método de análise e solução de problemas para a aprendizagem organizacional. Belo Horizonte, 2008. Dissertação (Mestre em Administração). Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

ORIBE, Claudemir Y. Tipologia de Treinamentos na Perspectiva Organizacional: uma solução simples, prática e fundamentada para definir o perfil do investimento e escolher o melhor método de avaliação de eficácia em treinamento. In: Congresso Brasileiro de Treinamento e Desenvolvimento, 2011. Santos, Anais. São Paulo: ABTD, 2011.

SUGIURA, Tadashi; KANEKO, Noriharu; YAMADA, Yoshiaki; ODA, Takashi. Introdução a Jogos de Treinamento para Equipes. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1998.

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